O Vale Encantado é uma comunidade, localizada no bairro do Alto da Boa Vista, no coração da Mata Atlântica do Rio de Janeiro, composta por famílias que há muitas gerações vivem dos recursos do lugar. Muito antes da criação do um Parque Nacional da Tijuca, a produção agrícola era a principal fonte de sobrevivência dessas famílias. Na metade do século XX o processo migrou para a extração de granito gerando grande degradação, dos recursos naturais até então abundantes por ali. O que parecia evidenciar a “tragédia dos comuns” (onde os recursos disponíveis, aparentemente ilimitados, são extraídos até seu total esgotamento e consequente colapso do meio), reverteu-se completamente a partir da década de 1980, quando a comunidade passou a desenvolver como atividade central o ecoturismo, tratando seus recursos naturais como bens fundamentais a serem preservados. A atividade agrícola voltou a fazer parte do cotidiano, porém, desta vez, sobre um viés agroecológico que potencializa a Mata Atlântica ainda abundante. Mas o principal aspecto desta nova atitude gerida pela comunidade em parceria com universidades e organizações não governamentais, além de harmônica com o meio, veio da consciência de se ter a água como recurso fundamental. Seu esgoto sanitário produzido ali, que era lançado in natura nos córregos do Vale, e que, inclusive, em alguns lugares encontrava-se a céu aberto, ampliando exponencialmente os riscos sanitários daquela gente, passou a ser tratado dentro da própria comunidade, a partir da implementação de biossistemas que conjugam diversos tipos de tratamentos de esgoto, como biodigestores e zonas de raízes. E mais, passou a gerar como sub-recursos, adubo vegetal de alta qualidade e biogás, que são utilizados em uma cozinha comunitária e restaurante, onde se preparam alimentos agroflorestais produzidos ali, ampliando os recursos culturais e econômicos da Comunidade do Vale Encantado.
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