CIDADE COMIDA – O parque ecológico da Rocinha foi criado com o propósito de gerar encontros entre moradores da favela e a natureza, além de ser uma alternativa à carência de lugares de uso coletivo e um limitador da expansão desordenada daquela comunidade em direção a área do Parque Nacional da Tijuca.
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Sua construção, que custou dezenas de milhões aos cofres públicos, ficou marcada pela polêmica do desaparecimento do morador Amarildo Dias de Souza no ano de 2013, poucos meses após sua inauguração.
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A partir de uma grande comoção comunitária, se descobriu que Amarildo havia sido torturado e morto por policiais dentro da área do parque. Este fato teve como consequência um efeito catastrófico para o Parque Ecológico. Ele foi abandonado pela administração pública e a população local parou de visitá-lo não chegando a criar vínculos, dado o receio e o trauma pelo ocorrido. O tempo cuidou para que o espaço sem manutenção fosse depredado e saqueado. Além de estimular o avanço de obras irregulares nessa área de risco e de “proteção ambiental”.
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Desde meados de 2016 um grupo de moradores se juntou à representantes do Ministério Público na tentativa de reestruturar o parque, com poucos avanços até o momento.
Em 2021 o plantio da Muda de Ipê Amarelo, árvore símbolo da união das Capitais Mundiais da Arquitetura, na Escola Municipal Luiz Paulo Horta, também na Rocinha, estimulou o morador Giliard Barreto a começar uma atividade ecológica na escola, incluindo a plantação e manutenção de uma horta, junto aos alunos. Naquele momento uniram-se à ele o morador e ativista Severino Franco, experiente na produção de hortas, no tema da ecologia e que acompanhava as discussões para a reestruturação do parque ecológico, além do estudante de arquitetura Hans Richter, empenhado nos mesmos debates. No final daquele ano, os três, unidos a uma variedade de coletivos locais, organizaram um momento festivo no parque, reunindo crianças e adultos, tanto da favela quanto de outros lugares. Foi uma ação simples, mas emblemática.
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No início de 2022, o pequeno grupo se uniu à arquiteta e professora Patrícia Maya, atuante nos temas da participação comunitária e ao arquiteto e ativista Guto Santos, organizador do plantio da árvore #agentemuda e ex-superintendente do Governo Estadual, onde havia desenvolvido algumas estratégias ecológicas para a Rocinha tendo como base a participação ativa da comunidade. O novo grupo que rapidamente agregou mais organizadores, como as professoras Maíra Martins e Monica Bahia, percebeu que seria fundamental dar continuidade e regularidade as ativações do parque, sempre convidando muitas pessoas e coletivos para desenvolverem suas atividades, afim de tornar a programação o mais agradável e variada possível.
Os encontros, intitulados SUPERAÇÃO (que quer dizer tanto uma grande ação quanto a anulação de um trauma), ocorrem desde então todos os meses, sempre trazendo um tema sugestivo, mas não restritivo.
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Por questões diversas como, foco de comunicação, minimização das responsabilizações individualizadas, entre outras, percebeu-se necessário criar um nome coletivo que possibilitasse essa identificação geral.
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Os Amigos do Parque Ecológico da Rocinha não se restringem aos seus organizadores, ou aos que participam das atividades mensais. Eles são todos aqueles que acreditam na integração entre humanos e não humanos, no diálogo e na confraternização como ferramentas de superação das dificuldades e dos traumas, no encontro como ato generoso na busca da felicidade coletiva.
* Texto por Guto Santos